Defende-te da Paixão!
A partir de uma crónica de Manuel Ribeiro:
Uma das maiores parvoíces que temos que aturar aos homens é aquela mania que eles têm que nós, mulheres, nos apaixonamos por eles a torto e a direito, nas ocasiões mais inoportunas (segundo eles) e moemos-lhes a cabeça até mais não... Como toda a gente sabe, esta coisa da paixão é uma palermice meia néscia que ataca as camadas jovens, imberbes ou imaturas da população (mais a masculina que a feminina), regra geral no período que medeia o ultrapassar da «idade do armário» e a inspecção para a tropa ou a fase da boémia académica.
Nós, mulheres modernas e evoluídas dos finais do século XX calejadas por contos de Grimm e Perrault, animações de Hayao Miyasaki, filmes do George Cuckor e quejandos shakespeareanos desde da mais tenra infância, quando vemos «telenovelas» já temos tanto andamento na matéria que o espírito já não se verga e quando o vírus da paixão nos ataca já lhe temos imunidade.
Mas eles não. Vá-se lá saber porquê, um dia olham para uma de nós e vêem uma «deusa», uma criatura divina e ficam fascinados com um brilho nos olhos e pulsações acelaradas. Será exagerado dizer que perdem a cordenação motora e que ficam com o naco comidinho a andar à roda durante semanas a fio. Mas deixa de lhes apetecer andar na borga, apanhar bezanas com os amigos, recusam-se a ir a um tasco com os compinchas de sempre e ficam indiferentes a uma cena mais «caliente» com a sua actriz favorita. Segundo os próprios este fenómeno é legítimo e em regra compensa. A miúda farta de tanto sacrifício e auto-comiseração lá acaba por ceder às súplicas do mancebo e propíciamos-lhe um manjar com massagens e tudo, que ele até racha ao meio.
É claro que daí para a frente raramente voltamos a cair noutra. Aquele choradinho todo não difere muito do bébé que chora porque quer mamar. A experiência ensina-nos que tanta paixão só tem um objectivo - disporem de uma moçoila bem fornecida de atributos que os ajude a passar as noites longas de Verão e as tardes de domingo no Inverno - pois se é esse o objectivo, sugiro aos meninos que ganhem bem para sustentarem mulheres-a-dias (e a-noites) que nós não nascemos para ajudar nenhum marmanjo com idade para ter juízo a passar seja o que for... Seja camisas, seja noites quentes ou tardes frias... Isto é que eles têm uma lata, hein? Amanhem-se que nós quando não temos chófer também vamos às compras na mesma! As noites de Verão são para ir passear à beira-mar e as tardes de domingo são para ir ver filmes ao cinema! Tenho-o dito!
E apesar de tudo continuamos a rebaixarmo-nos àquela figurinha tola e a fazer todas as figurinhas de parvo que associamos à condição de estar apaixonado. É vê-las chorar pelos cantos com olhinhos de gazelinha, é vê-las suspirar, é vê-las com o olhar perdido no infinito a sonhar alto como Julietas empedernidas na varanda... É vê-los ir às floristas gastar balúrdios suficientementes para comprar a filmografia toda do Woody Allen, oferecerem-nos chocolates a pensar que estão a fazer uma grande coisa quando nós queriamos era o cd do "Final Fantasy" Owen Pallet, é vê-los armados em trovadores de guitarra em riste a tentarem impressionar a garina com baladas lamechas roubadas ao genial Jorge Palma e pensarem que nós nem nos apercebemos, é vê-los armados em poetas com poemas de grandes poetas e pensarem que nós não conhecemos, são as declarações idiotas do tipo «se fosses um hamburguer do McD's eras a McGira ou a McDelícia»... E depois nós, as mulheres é que somos as românticas incuráveis... Deixem-se lá disso que já não estamos nos tempos do «Wuthering Heights»... Eu já li a Men's Health e a Maxmen e a conclusão a que chego é que eles pensam que basta pagarem-nos uns jantares, oferecerem-nos umas cenas, levarem-nos a uns sítios e tal e já estamos no papo... Bah! Lorpinhas! O pior é que depois de tanto trabalho e investimento a moça muitas vezes não corresponde e é logo apelidada de nomes demasiado obscenos para serem aqui expressos por escrito. Somos logo umas mentirosas, lambisgóias, aproveitadoras e ingratas... E se não andamos por aí de olhos de carneiro mal-morto a suspirar pelos cantos por algum deles somos logo umas cabras, frias e calculistas... GET REAL... Girls just wanna have fun! E nós importadas com o que eles pensam... Não é amigas? Julgam eles que nós nos arranjamos durante horas para lhes agradar... É mas é para agradar ao espelho! Para nos sentirmos bem connosco próprias.
E quando eles estão apaixonados não adianta pedir uma opinião... O nosso traseiro pode estar do tamanho da bola-de-nívea da praia para ele (que está apaixonado) tem sempre o tamanho ideal. Razão tem a minha avó que diz que a gordura de uma mulher nunca enjoou um homem. E eu acrescentaria, «nunca enjoou um homem apaixonado».
Nessas alturas só há uma coisa a fazer é tirar partido da paixonite dele. É o que qualquer pessoa inteligente faria... É vê-los levarem-nos a sítios bonitos, restaurantes chiques, passeios ao entardecer e armarem-se em cavalheiros. Aproveitem agora para pedir o que quiserem que eles andam sempre muito mansos e genrosos. Não digo que eu fizesse isso mas eu também não me considero muito inteligente.
Ora o que os homens nunca vão perceber é que se uma mulher aceita juntar os trapinhos é porque já tinham pena de como abusavam da boa-vontade deles e não que como penitência desejassem passar os dias a passar-lhes as camisas e a lavar-lhes o peúgo ou a cozinhar para eles... Se casam é porque dá jeito ter alguém amigo como companheiro de rambóia carimbado com o selo de exclusividade pessoal e intransmíssivel.
Se já se sacrificam a levar com o cheiro a cerveja, com o futebol e as jantaradas para os amigalhaços (já para não falar no canal 18 ou 32 ou lá que porra é) isto já devia ser prova suficiente do sentimento... Sim, porque abdicar das tertúlias jazzísticas, da boémia e da ementa variada em favor da dieta permanente também nós o fazemos e olhem que a carne é fraca e às vezes custa muito não dar uma dentadinha num ou noutro pescocinho apetitoso...
Na próxima investida apaixonada do seu querido disfarce o mais que puder. Vá ao cabeleireiro mudar o penteado, veja um filme do John Woo, arranje trabalho para os serões e resista até ao limite. Se mesmo assim a coisa não passar tente que ele arranje outra vítima. Já que alguém vai ter que ouvir aquela serenata de cana-rachada às 4 da matina que seja outra, já que tem que se apaixonar e tem, que seja por outra... Já dei demasiado para esse peditório!
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